Tensão no Oriente Médio: petróleo dispara e pode impactar preço da gasolina

A escalada das tensões e dos temores originados pelo ataque de Israel ao Irã já se reflete no aumento de preço do petróleo. A persistência do cenário adverso tende a elevar o preço dos combustíveis e chegar até o bolso dos brasileiros.
O que aconteceu
Israel bombardeou Teerã, capital iraniana. Os ataques atingiram alvos militares e instalações relacionadas ao programa nuclear do Irã. As FDI (Forças de Defesa de Israel) classificaram a ação como um "ataque inicial" e disseram estar "prontas para continuar a agir conforme necessário".
Irã revidou da ofensiva com ataque de mísseis. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que Israel preparou um "destino amargo e doloroso para si mesmo". Diante da ameaça, o Exército israelense declarou ter interceptado cerca de 100 mísseis direcionados ao país.
Alta do petróleo é o primeiro reflexo do ataque. Após a escalada das tensões, o barril de 159 litros do Brent, referência internacional para o combustível, alcançou US$ 78 pela primeira vez desde janeiro. "Podemos esperar uma pressão inflacionária maior caso o petróleo continue a subir", prevê Matheus Amaral, especialista de renda variável do Inter.
O conflito estava concentrado em áreas sem impacto na produção de petróleo. Havia risco, mas sem impacto nos preços. Agora, o grau de incerteza se amplia muito, porque você tem o alcance da guerra tomando novas dimensões, para regiões produtoras.
José Ronaldo Souza, professor do Ibmec
Região é determinante para o combustível. O especialista em investimentos Jeff Patzlaff explica que o conflito aumenta a instabilidade no Oriente Médio, região que ele define como "estratégica" para a produção e o transporte de petróleo. "A limitação de o ao Estreito de Ormuz, por onde a cerca de 20% do petróleo global, pode gerar fortes altas nos preços dos barris do Brent e WTI", diz Patzlaff.
Efeito cascata contaminará outras atividades. "O frete deve ficar mais caro por questões de segurança, implicando no aumento dos preços dos seguros e devido à alta dos combustíveis", diz Fernanda Brandão, professora de relações internacionais da Universidade Mackenzie. Segundo ela, tal cenário vai exigir a utilização de rotas alternativas e, consequentemente, com custo mais elevado para o transporte de bens com segurança.
Mais inflação
Cenário vai inibir a perda de força da inflação. A evolução de preço do petróleo e a alta do dólar originada na busca por ativos de maior segurança têm capacidade de atingir toda a cadeia de suprimentos. A chamada pressão inflacionária inicial impactará inicialmente as commodities, matérias-primas que acompanham a variação da moeda norte-americana.
O petróleo em alta traz efeitos negativos para empresas com custos atrelados ao combustível, além de custos logísticos para a cadeia produtiva como um todo.
Matheus Amaral, especialista de renda variável do Inter
Preços dos alimentos também tendem a subir. Além do petróleo e do minério, a manutenção das tensões e da valorização do dólar a longo prazo vai atingir diversos produtos essenciais que aparecem na mesa das famílias. Entram na relação commodities como o café, o açúcar, o arroz, o feijão e a farinha, usada para a fabricação de pães, massas e biscoitos.
A alta do petróleo tende a ter efeito de segunda ordem em diversas cadeias produtivas, pois ele é insumo direto em energia e transporte. Commodities agrícolas são particularmente sensíveis, dado que fertilizantes, defensivos e combustíveis representam parcela expressiva do custo de produção.
Hugo Garbe, professor do CCSA (Centro de Ciências Sociais e Aplicadas)
Efeito na inflação interromperá momento positivo. O alastramento do conflito e o eventual impacto no bolso dos consumidores brasileiros podem surgir diante da atual perda de força da inflação. No mês ado, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ficou abaixo das expectativas. Para este mês, a queda da gasolina tende a interromper a alta da energia elétrica.
Reajuste aos motoristas ainda levará um tempo. Como os combustíveis no Brasil são istrados pela Petrobras, a política de reajuste depende do aval da estatal, o que não acontece instantaneamente, conforme políticas adotadas no ado. "Por mais que a Petrobras espere para ver se as tendências vão se manter, caso o conflito persista, inevitavelmente uma hora ela terá que rear [a alta do petróleo] para o preço dos combustíveis", diz Souza.
Juros elevados
Conflitos atingirão ciclo da taxa básica de juros. Conforme as expectativas atuais do mercado financeiro, a trajetória de alta da taxa Selic será interrompida na próxima semana. Ainda assim, o cenário internacional adverso pode abrir margem para novas elevações dos juros básicos, atualmente no maior patamar desde 2006 (14,75% ao ano).
Crise coloca políticas expansionistas em xeque. "Com o petróleo em alta e a possibilidade de inflação importada, aumenta a complexidade do cenário para os Bancos Centrais, que já vinham sinalizando cautela", afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Cautela deve ser ponderada pelo Banco Central. No Brasil, os diretores do Copom (Comitê de Política Monetária) se reúnem na próxima semana e devem incluir os conflitos no Oriente Médio como ponto de alerta para o futuro das taxas de juros pelo mundo. "É uma questão ainda muito preliminar, mas essa guerra pode aumentar a inflação, reduzir o crescimento econômico mundial e trazer outros efeitos indiretos ainda desconhecidos", diz Souza.