Fuzileiros chegam a Los Angeles em acontecimento raro, com mais protestos esperados nos EUA
Por Brad Brooks e Jorge Garcia e Idrees Ali e Phil Stewart
LOS ANGELES (Reuters) - Fuzileiros navais dos Estados Unidos foram enviados para Los Angeles nesta sexta-feira, segundo os militares, em um raro uso das Forças Armadas dentro do país após dias de protestos contra ações de combate à imigração, e com novas manifestações em todo o país previstas para sábado, nos maiores protestos desde que o presidente Donald Trump voltou ao poder.
Cerca de 200 fuzileiros navais protegerão um prédio federal em Los Angeles, disse o major-general do Exército Scott Sherman nesta sexta-feira. O governo Trump autorizou um total de 700 fuzileiros navais a serem enviados para a cidade.
Nem os fuzileiros navais nem as tropas da Guarda Nacional que estão em ação na cidade detiveram temporariamente qualquer pessoa, acrescentou o major-general.
"Gostaria de enfatizar que os soldados não participarão de atividades de aplicação da lei", disse ele durante uma reunião.
É incomum que tropas em serviço ativo sejam usadas internamente durante distúrbios civis nos EUA.
A última vez que as Forças Armadas foram usadas em uma ação policial direta foi em 1992, quando o governador da Califórnia na época pediu ao então presidente George H.W. Bush que invocasse a Lei da Insurreição para ajudar a responder aos distúrbios em Los Angeles devido à absolvição dos policiais que espancaram o motorista negro Rodney King.
Um tribunal decidiu na quinta-feira que Trump pode manter seu destacamento de tropas da Guarda Nacional em Los Angeles por enquanto.
A decisão do Tribunal de Apelações do 9º Circuito dos EUA suspendeu temporariamente uma decisão de um tribunal de primeira instância que bloqueou a mobilização, embora isso não signifique que o tribunal acabará ficando do lado de Trump.
"Nós salvamos L.A. Obrigado pela decisão!!!", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social.
A Procuradoria-Geral da Califórnia considera que o governo Trump "ultraou em muito sua autoridade", e continua confiante em sua ação contra a medida antes de apresentar argumentos ao tribunal na semana que vem, disse a entidade.
No centro de Los Angeles, trabalhadores da construção civil estavam nas ruas desde cedo nesta sexta-feira instalando chapas de compensado a fachadas das lojas, sendo que muitas já estavam fechadas com tábuas.
Little Tokyo, a área mais afetada pelos protestos, continua coberta de pichações contra os agentes de imigração e alfândega pintadas com spray pelos manifestantes durante as marchas das noites anteriores, embora poucos edifícios tenham sofrido danos além disso.
"Tudo isso é péssimo para os negócios", disse o proprietário de um restaurante, cujas janelas estavam sendo fechadas com tábuas e que só quis falar sob condição de anonimato.
"Meu negócio é ótimo quando as coisas estão calmas, mas nem os manifestantes nem a polícia estão permitindo que isso aconteça."
SOLDADOS NAS RUAS
Cidades de todos os Estados Unidos estavam se preparando para manifestações no sábado, quando também se espera que aqueles que se opõem a um desfile militar no fim de semana em Washington saiam às ruas.
"Eles desafiaram nossos tribunais, deportaram norte-americanos, tiraram pessoas das ruas, atacaram nossos direitos civis e cortaram nossos serviços", escreveu em seu site o grupo No Kings, que está organizando o dia de protesto.
Trump está cumprindo uma promessa de campanha de deportar imigrantes, empregando táticas consistentes com o estilo político de quebra de normas que o fez ser eleito duas vezes.
Os democratas, incluindo o governador da Califórnia, Gavin Newsom, disseram que o uso da força militar era desnecessário e um exemplo do autoritarismo de Trump.
Em Los Angeles, as tropas ficaram de guarda em um centro de detenção federal no centro da cidade, onde muitos dos protestos ocorreram, em uma demonstração de solidariedade aos imigrantes detidos.
A Guarda acompanhou os agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) nas operações de detenção de imigrantes.
As autoridades municipais de Los Angeles e as autoridades estaduais da Califórnia se opam ao aumento da fiscalização federal da imigração desde o início, na última sexta-feira.
"A paz começa com a saída do ICE de Los Angeles", disse na quinta-feira a prefeita de LA, Karen Bass, que impôs um toque de recolher noturno em uma parte do centro da cidade.
Os protestos têm sido, em sua maioria, pacíficos, pontuados por poucos incidentes de violência e s a alguns quarteirões da cidade.
O Departamento de Polícia de Los Angeles disse que 33 pessoas foram presas no centro da cidade durante a noite por não terem se dispersado, à medida que os protestos continuaram na cidade pelo sétimo dia, e 13 prisões foram feitas por violar o toque de recolher.
Também ocorreram manifestações em outras cidades nesta semana, incluindo Nova York e Chicago, e houve alguns distúrbios.
Quatro detentos escaparam de um centro de detenção de imigrantes operado por uma empresa privada em Newark, Nova Jersey, na quinta-feira, em meio a relatos de distúrbios dentro da instalação, disse um funcionário do Departamento de Segurança Interna na sexta-feira.
Os norte-americanos estão divididos quanto à decisão de Trump de ativar as Forças Armadas. Uma pesquisa da Reuters/Ipsos publicada na quinta-feira mostrou que 48% dos entrevistados concordaram com a declaração de que o presidente deveria "enviar os militares para colocar ordem nas ruas" quando os protestos se tornaram violentos, enquanto 41% discordaram.
(Reportagem adicional de Sebastian Rocandio, Omar Younis, Arafat Barbakh, Rollo Ross, Alan Devall, Joseph Ax e Phil Stewart)