Ataque de Israel ao Irã piora instabilidade no Oriente Medio
Ataque de Israel ao Irã piora instabilidade no Oriente Medio - Grande ofensiva israelense a alvos iranianos tem potencial para sabotar de vez anos de esforços por acordo nuclear, liderados pelos EUA. Consequências podem envolver toda a região.Chamar o Oriente Médio de "barril de pólvora" é minimizar a situação. E em meio a essa região altamente explosiva, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acaba de lançar uma granada, nesta sexta-feira (13/06): uma ofensiva maciça a mais de 100 alvos no Irã, justificada como "ataque preventivo" contra o possível desenvolvimento de armas nucleares. Netanyahu anunciou que as investidas, inclusive em áreas residenciais da capital Teerã, deverão continuar durante vários dias.
Os efeitos sobre a região e mais além são imprevisíveis, porém algumas consequências já se anunciam: o Irã suspendeu as negociações sobre seu programa nuclear, iniciadas pelo governo dos Estados Unidos por mediação de Oman.
A ofensiva israelense ocorreu dois dias antes do início da próxima rodada de diálogo. O presidente americano, Donald Trump, havia instado Tel Aviv expressamente a não torpedear as negociações. E ainda logo antes que caíssem os mísseis, postara que confiava na continuação das conversações.
Uma das mortes em consequência dos ataques mostra, em especial, o descaso de Netanyahu pelas negociações nucleares: a vítima foi Ali Shamchani, designado expressamente pelo líder religioso iraniano Ali Khamenei para encabeçar o comitê encarregado dos diálogos com os americanos.
Uma das questões em aberto é se em seus eventuais atos de retaliação o Irã também vai visar alvos dos EUA. O país é considerado o mais importante aliado militar de Israel, cujo apoio é o que possibilita ofensivas dessa ordem de grandeza.
No ado, Teerã já ameaçou retaliar contra bases militares dos EUA no Oriente Médio. Por sua vez, há dias Washington iniciou a evacuação do pessoal não imediatamente necessário na região, e dos familiares de seus militares. Os alvos potenciais são muitos: entre o Egito e os Emirados Árabes Unidos há oito bases americanas permanentes e diversas outras temporárias, com um total estimado de 50 mil soldados estacionados.
Embora os iranianos não tenham interesse num confronto armado com os EUA, uma eventual abstenção por parte de Teerã dependerá de se – e com qual grau de credibilidade – a Casa Branca vai se distanciar dos ataques israelenses. Na plataforma X, o secretário de Estado Marco Rubio já assegurou que seu país não participou em absoluto da ofensiva, complementando com a advertência de que o Irã "não deve visar interesses ou pessoal americano".
Perspectivas desoladoras para paz no Oriente Médio
No Oriente Médio, em geral, o nervosismo é grande. Os países da região condenaram severamente a ofensiva israelense, até mesmo a Arábia Saudita, até há pouco inimiga declarada do Irã.
A pretendida aproximação entre Israel e o mundo árabe, iniciada durante o mandato de Trump na forma dos Acordos de Abraão, deverá ficar congelada. Porém a conduta de guerra israelense na Faixa de Gaza já se encarregara de esfriar seriamente o clima diplomático.
Por sua vez, faz apenas dois anos que Teerã e Riad se reaproximaram, sob mediação chinesa, após anos de hostilidade radical. Desde então, as relações bilaterais se intensificaram, havia até planos de cooperação militar e de manobras conjuntas. O sinal de aproximação mais recente foi em abril, quando o ministro saudita de Defesa, Khalid bin Salman – irmão do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman – viajou até a capital iraniana, onde também se encontrou com o líder Khamenei.
Assim como os demais Estados árabes da região, a Arábia Saudita não quer de modo algum ser implicada no conflito israelo-iraniano, muito menos com os EUA estando envolvidos. Diante da superioridade de seu oponente, o Irã poderá apelar para táticas de guerra assimétrica, por exemplo obstruindo a extração e transporte de petróleo.
Em 2019, ataques com drones por houthis iemenitas interromperam temporariamente o transporte de petróleo saudita, e nos anos seguintes instalações petroleiras do país foram igualmente alvo de ofensivas do Iêmen. Assim, não é surpresa que as ofensivas israelenses tenham gerado uma forte alta dos preços do petróleo.
Questionável é se com esses ataques Israel alcançará sua meta oficialmente declarada: impedir o desenvolvimento de uma bomba atômica iraniana. No momento, a maioria dos especialistas duvida que seja possível destruir o programa nuclear do país por meios militares. Em contrapartida, os atuais bombardeios poderão motivar o Irã a, agora sim, apostar no armamento nuclear. Isso possivelmente resultaria numa corrida armamentista no Oriente Médio – o que não é no interesse de ninguém.
Autor: Matthias von Hein